Camellia é um género de plantas da família Theaceae que produzem as flores conhecidas como camélia (e em algumas regiões de Portugal como japoneira). O género Camellia inclui muitas plantas ornamentais e a planta do chá.
O género foi descrito pelo naturalista sueco Carl von Linné na sua obra "Species Plantarum", e baptizado em homenagem ao missionário jesuíta Georg Kamel.
Todas as espécies de Camellia são designadas, na China, pela palavra mandarim "chá", e complementada com algum outro termo que, geralmente, caracteriza o seu habitat ou as suas peculiaridades morfológicas.
Este género apresenta cerca de 80 espécies nativas das florestas da Índia, Sudeste Asiático, China e Japão. São arbustos ou árvores de porte médio, com folhas coriáceas, escuras, lustrosas, com bordas serrilhadas ou dentadas. Apresentam flores vistosas, brancas, vermelhas, rosadas, matizadas e, raramente, amarelas (podem ser obtidas apenas através da hibridização entre certas espécies). Não há camélias azuis, mas alguns investigadores descobriram pigmentos dessa cor em algumas espécies e actualmente tentam isolá-los através de cruzamentos. Algumas flores são tão grandes quanto a palma da mão de uma pessoa adulta, outras tão pequenas quanto uma moeda. Certas espécies exalam um perfume suave. Os frutos são cápsulas globosas, que podem variar desde o tamanho de um amendoim ao de uma maçã, com cerca de 3 sementes esféricas.
Algumas espécies, como a
Camellia japonica, a
sasanqua, a
reticulata e a
chrysantha são cultivadas pelas suas belas e grandes flores, folhagem densa, escura e lustrosa, e porte baixo. Estas e outras espécies são intercruzadas para a obtenção de híbridos que reúnem as suas melhores qualidades.
A este género pertence ainda a
Camellia sinensis, espécie de cujas folhas se obtém chá, e cujo comércio movimenta milhões todos os anos.
Esta dá origem a milhares de chás diferentes, de acordo com as condições de cultivo, colheita, preparo e acondicionamento das folhas. No entanto, todos esses produtos podem ser divididos em quatro categorias distintas:
Chá branco (não fermentado, produzido das mais tenras folhas, mais raro e caro),
chá verde (levemente fermentado),
chá oolong (com fermentação mediana, basicamente ficando entre o chá verde e o preto, mas com características degustativas geralmente mais próximas do chá verde), e
chá preto (bem fermentado, e forte).
Esta espécie tem de ser podada constantemente, de modo que nunca ultrapasse uma altura de 1,5 m e produza muitas folhas. Os indivíduos cultivados desta maneira raramente florescem. As folhas são oblongas, escuras, lustrosas, com nervuras bem marcadas nas superfícies, de margem inteiramente dentada, e as folhas mais jovens são cobertas de pequenos pêlos brancos.
As flores surgem solitárias ou aos pares nas axilas das folhas. São pequenas, com pétalas brancas e perfumadas, possuem muitos estames e um pistilo com 3 estigmas.
Os frutos são cápsulas pequenas. É possível produzir óleo para o consumo humano a partir das sementes desta planta.
Outras espécies de Camellia são ainda usadas localmente na Índia e na China como alternativas a esta para a preparação de chá, com índices de cafeína diferenciados.
A
Camellia japonica é a flor inspiradora do romance "A Dama das Camélias", de Alexandre Dumas Filho.
«O perfume delas é talvez a cor», escrevia o poeta Pedro Homem de Mello.
Planta de origem distante, prefere a sombra à luz da manhã. Em largos períodos do século XX, marcado pela guerra, perdeu admiradores e o título de "rainha". No "Guia do Viajante do Porto", editado em finais do século XIX, Alberto Pimentel não tinha dúvidas: «Se a Dama das Camélias de Dumas Filho não vivesse em Paris, viveria de certo no Porto, terra onde as camélias nascem numa abundância e formosura incomparáveis.» A camélia, trazida da China e do Japão, encontrou terra amiga no Porto. Mas o "culto apaixonado" por estas flores, no final de Oitocentos, também chegou a Lisboa.
Na capital do reino, no entanto, por razões de solo e de clima, era extremamente difícil prolongar a vida a uma camélia por mais de um ano. Por serem raras, eram vendidas a «alto preço». As damas de Lisboa, escreveu Alberto Pimentel, «adoram, pois, as camélias sem as possuir; os poetas da capital cantam-nas sem as conhecer».
Mais de um século depois, a Quinta d'Allen - porque as camélias «preferem florir em sítio onde possam escutar o murmúrio do agreste e às vezes melancólico Douro»,- continua a ser uma referência para os admiradores dos arbustos e árvores que, como as magnólias, escolheram o fim do Inverno para exibirem as flores de diversas cores.
No dia 13 de Maio de 1888, uma senhora de 41 anos assinava um dos documentos mais importantes da História do Brasil - a Lei Áurea, que dava liberdade a todos os escravos. Liberal e ousada, contra elites e grupos influentes, Isabel I apoiou jovens políticos e artistas, embora muitos dos chamados abolicionistas estivessem aliados ao incipiente movimento republicano. Financiava a alforria de ex-escravos com seu próprio dinheiro e apoiava a comunidade do Quilombo do Leblon, que cultivava camélias brancas, símbolo do abolicionismo. A Princesa ousou, algumas vezes, aparecer em público com uma dessas flores a adornar-lhe a roupa, facto sempre notado pelos jornais. Foram-lhe oferecidos, inclusive, aquando da assinatura da Lei Áurea, ramos de camélias. A flor servia como uma espécie de código de identificação entre os abolicionistas, principalmente quando empenhados em acções mais perigosas, ou ilegais, como auxiliando fugas ou conseguindo esconderijo para os fugitivos. Um escravo podia identificar imediatamente possíveis aliados pelo uso de uma dessas flores no peito, do lado do coração. Usar uma camélia na lapela ou tê-la no jardim era uma quase acintosa confissão de fé abolicionista.